Um
dia fui ao bosque e procurei tanto e mais quero encontrar, pois a vida é tão
triste e sem cor do bosque. No meu bosque há vida, árvores grandes, ervas de
todos os cheiros, bichos de todas as cores, sons dos mais graves a agudos, sinfonia
onde entra vento e brisa.
Ao
bosque sempre recorro na alegria e na tristeza, pois foi nele que que aprendi
que semente brota e cresce, que folha, animal e até papel com carta escrita se
desfaz e renasce mais tarde em planta, árvore ou flor, comido por caracol e
insecto voador.
Aos
meus pais nunca disse, mas eles sabiam, e, quando me viam triste e cabisbaixo, diziam-me:
«Vais para o teu bosque falar com amigos que só tu conheces e nem nos dizes?»
Pois assim foi. Há muito tempo que conheci um ser estranho, com um vestido
curioso e ilustrado, nem gente, nem animal, mas duende era por certo. Tinha
ouvido falar dele em contos, em histórias contadas por minha tia, que eu
julgava ser mentira, mas ele ali estava e disse-me: «Boa tarde amigo.»
Ao
duende só à segunda vez lhe respondi e a medo perguntei-lhe: «Como te chamas.»
Ele sorriu e disse: «Mais tarde te direi. Agora já me vês e reconheces-me das
histórias de tua tia e minha amiga.» A pouco e pouco, fui-lhe contando as
minhas desventuras e até sovas por ser malcriado e mentiroso. O duende, que
hoje sei o nome e nunca vos direi, porque prometi segredo eterno, ouvia os meus
desabafos entre raiva e choro e no final sempre me dizia: «Coragem rapaz, tu és
forte e aguentas muito mais, é a tua escola de vida.»
Na
escola tinha sucessos e insucessos, e esperava sempre o final das aulas e dos
trabalhos bem feitos, pois esquecia-me de os aprontar. Meu amigo, nem aparecia.
Lá vinha eu noutro dia e prometia-lhe que nunca mais acontecia e ele ria-se e
dizia: «Sim, sim, pois então, o teu nariz irá crescer e de Pinóquio o sentirás
em adulto.»
Fui
crescendo e amadurecendo e vendo que o meu amigo duende também — ele
mantinha-se apenas na mesma dimensão e nas vestes sempre limpas e belas. Quando
triste estava e sentia medo, reconhecia-me e aquecia-me a alma e o coração com
palavras meigas, sombras desvanecidas e as lágrimas pareciam boa rega de
semente de esperança. As estrelas na noite nunca escondiam ser possível
ultrapassar trevas, de manhã o Sol e em muitas noites uma Lua tão cheia que nos
fazia impressão de ir aparentemente subir e rebentar no ar.
Hoje,
sempre converso com o meu amigo duende e espero não ser apelidado de louco que
efetivamente sou, mas de amor o reconheço e cultivo com o meu amigo e vos
partilho um esboço de intuição e caminho. Esperança, amigos, e tolerância, a
quem melhor estiver nada de soberba, a quem pior se mostrar nunca se engane e
iluda que o meu duende saberá mais e vos dará na cabeça. A meninos, a velhos e
gentes eternos sofredores de tempos passados, presentes e futuros, apenas vos
direi o que aprendi com meu o meu amigo duende. Chorem, riam e desfrutem algo
nem que seja o dia ou a noite do vosso encanto que é a vossa vida curta e bela.
Este amigo, que por certo partilho com alguém e nem sei, sempre me ensina algo
no dia e no momento de conversação. Com ele aprendi a aceitar o envelhecimento
dos meus familiares e meu também. Com o duende discuti obras de literatura e
poesia, e ele sabia muito mais do que eu, mas dizia-me que com mais de 300 anos
teria de saber.
Perguntaram-me
porque fazia segredo do nome deste duende, amigo e quem sabe imaginário será,
pois nada mais simples, porque para o convocar e falar, apenas tenho de dizer o
nome dele em voz baixa e ter o olhar e alma tranquilos, e se estiver só ou em
companhia de alguém puro ou criança, ele mostrar-se-á e dirá: «Duende da minha
vida e da minha esperança, apresento-o e mais tarde outras histórias contarei.»
3 comentários:
Um duende fruto da imaginação ou dos contos? Não interessa. O que é importante é termos um duende amigo que nos faça felizes e nos ajude a contar histórias.
Gostei.Espero um dia conhecer este duende, é que por acaso pode conhecer, ou mesmo, ser amigo do meu duende.
Célio Passos
obrigado pelo seu comentário..
Agradeço e por certo os nossos duendes já se devem conhecer...
agradeço o seu comentário e digo por certo os duendes já se conhecem..
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