segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A Reunião de António Alvarez.


A estação do metropolitano no Campo Grande encontrava-se apinhada de gente. Aquela hora matinal era normal ter um afluxo grande, mas com o atraso motivado “por problemas na Linha Amarela”, que aparecia no placard, o cais já começava a ter falta de espaço.
Álvaro olhou para o seu relógio Seiko e verificou que faltavam 20 minutos para a hora de entrada ao serviço.
- Merda para isto! – falou com os seus botões. – Logo hoje, car..., em que precisava de chegar a horas para a “bodega” da reunião com a chefia.
- Senhores passageiros, o tempo de espera poder ser mais prolongado que o habitual. Pedimos desculpa pela situação – soou uma voz feminina nos altifalantes da estação.
- É sempre a mesma coisa nestes últimos tempos – falou o seu vizinho do lado para o “ar”.
- Tem razão! – respondeu-lhe. – Isto agora tornou-se quase ritual. Quando não é na amarela, é na verde ou na vermelha... ou o “raio que os parta”.
Tornou a olhar para o relógio e verificou que tinham passado quase 5 minutos.
- Agora já não vale a pena sair – pensou. – As filas para o autocarro já devem estar “estilo repartição de finanças”.
Tirou o jornal debaixo do braço e tentou fixar a sua atenção num artigo qualquer que lhe pudesse não o fazer pensar no tempo.
- Esses “filhos da p...” é que deviam andar de metro para saber como é – tornou o vizinho do lado ao olhar para a página do jornal onde aparecia o primeiro-ministro e alguns outros membros do governo. – Os gajos andam de “cu tremido” pago pelo “Zé Povinho”, querem lá saber da “malta”...
- É – respondeu Álvaro. – Mas alguém lá os pôs...  
Tornou a olhar para o relógio. – Fod...! Já não vou chegar a tempo – falou interiormente. – Porque é que eu fui beber a “bica”. Perdi o autocarro e mais tempo perdi...
- “Foi retomada a circulação na Linha Amarela” – tornou a voz feminina dos altifalantes.
- Bom, vou ter que entrar dê lá por onde der! – pensou e foi colocar-se estrategicamente na beira do cais a pisar já a linha amarela.
Todas as pessoas começaram a mover-se e a tomar as suas posições. O barulho do metro no túnel fazia-se anunciar.
De repente um corpo de uma jovem adolescente tombou à linha. Gritos fizeram-se ecoar por toda a estação.
- Façam sinais para o condutor parar – gritavam muitos.
Todos esbracejavam e tentavam ver o que se estava a passar. Outros viravam costas e dirigiram-se no sentido da saída. Algumas mulheres entraram em histeria. O cenário era quase “apocalíptico”.
Álvaro ouviu o chiar estridente das carruagens, sinal que o condutor tinha acionado os travões de emergência.
- Meus Deus! Não!.. – pensou  e fechou os olhos.

Um “pi” forte soou-lhe aos ouvidos. Abriu os olhos e verificou que se encontrava na cama. O tal “pi” era o “cabrão” do despertador... 

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