quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Invulgar de Eliane F.C.Lima


Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ - Brasil)

As calçadas estavam cobertas de flores lilases, que não se sentiam constrangidas por se esparramarem até o asfalto.
Na primavera – era primavera! –, as glicínias, que se estendiam por sobre todos os muros das casas, irreverentes e espaçosas, transbordavam para fora, tomando conta de tudo. O passante se sentia homenageado, tendo aquele tapete desdobrado para si.
A rua era famosa pelo colorido aveludado. Mas, nem por isso, abria mão de ser silenciosa e requintada. Vez ou outra passava um carro, caro, importado, da mesma gente que mantinha aqueles jardins cuidados, aquele silêncio perfumado e cromático.
Mas, nem por isso ainda, naquele dia, deixou de haver um corpo caído no meio das flores, atrevendo-se a manchar-lhes a suavidade lilás com seu vermelho impudico e derramado.
Mas não foi só: o atrevimento se estendeu aos carros de polícia que também ousaram quebrar o refinamento estabelecido para veículos e vieram se postar ao longo do meio-fio. E violentaram o silêncio dos requintados com suas sirenes obscenas.
E houve mais: as fotos da imprensa, que se avolumou nas calçadas, em volta das árvores, encostando-se nos muros violáceos, que quase se encolhiam com a ousadia.
E aqueles pés, atrevidos, pela primeira vez, coagiram as flores lilases, ofendidas ante a surpresa da invasão.
Agradeço ao site “Márcia Jardinagem” 

Sem comentários: