Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ - Brasil)
As
calçadas estavam cobertas de flores lilases, que não se sentiam constrangidas
por se esparramarem até o asfalto.
Na
primavera – era primavera! –, as glicínias, que se estendiam por sobre todos os
muros das casas, irreverentes e espaçosas, transbordavam para fora, tomando
conta de tudo. O passante se sentia homenageado, tendo aquele tapete desdobrado
para si.
A rua
era famosa pelo colorido aveludado. Mas, nem por isso, abria mão de ser
silenciosa e requintada. Vez ou outra passava um carro, caro, importado, da
mesma gente que mantinha aqueles jardins cuidados, aquele silêncio perfumado e
cromático.
Mas,
nem por isso ainda, naquele dia, deixou de haver um corpo caído no meio das
flores, atrevendo-se a manchar-lhes a suavidade lilás com seu vermelho impudico
e derramado.
Mas não
foi só: o atrevimento se estendeu aos carros de polícia que também ousaram
quebrar o refinamento estabelecido para veículos e vieram se postar ao longo do
meio-fio. E violentaram o silêncio dos requintados com suas sirenes obscenas.
E houve
mais: as fotos da imprensa, que se avolumou nas calçadas, em volta das árvores,
encostando-se nos muros violáceos, que quase se encolhiam com a ousadia.
E
aqueles pés, atrevidos, pela primeira vez, coagiram as flores lilases,
ofendidas ante a surpresa da invasão.
Agradeço
ao site “Márcia Jardinagem”
(http://marcia-jardinagem-marcia.blogspot.com.br/2012/04/as-mais-belas-glicinias.html)
de onde copiei a foto.
Sem comentários:
Enviar um comentário