(Conto
registrado no Escritório de Direitos Autorais - Rio de Janeiro - Brasil)
Ele se
sentava num banco de praça do centro da cidade e olhava para um prédio enorme
qualquer. E imaginava um corpo caindo dali. E o povo, que a princípio tinha
corrido de susto, ia se aproximando para ver bem visto, curiosidade sádica de
ser humano.
A
mulher se chamaria Teresa, com certeza. Tinha sido traída pelo marido. A
nonagésima vez, provavelmente. Nas outras, choro, gritos, no final, perdão.
Para tomar fôlego, deixar o coração se recompor até a próxima. Embora passasse
uns meses ainda com raiva, pensando numa vingança bem doída para ele.
A cada
novo evento, o desejo aumentava, como dinheiro posto na poupança, crescia um
pouquinho de nada, nunca, porém, ficava igual ao que era antes.
Dessa
vez, Teresa não teria chorado. Havia passado o apartamento em que moravam e que
tinha comprado antes do consórcio com o ingrato para o nome da cunhada, viúva
de seu irmão, a quem Abreu não suportava e fizera um monte de desaforos, sem
motivo algum, e tinha proibido a visita. Aquela não iria perdoar: sairia
despejado sem dó nem piedade.
Tinha,
também, raspado todo o dinheiro que tinha no banco, conta só dela, e depositado
no nome do irmão de sua empregada, anonimamente, já avisada a outra do fato.
Segredo entre os três. Abreu não teria como rastrear a quantia. Haveria de
pagar, de seu bolso, o enterro dela.
Na
imaginação do homem sentado na praça, Abreu chegaria, o safado. Viria com uma
colega de trabalho – aquilo era colega, toda solicita com o susto dele e cheia
de intimidade, parecia ter planos pela morte de Teresa?
Polícia,
repórter, flashes, Abreu fingiria desespero e choro ao reconhecer o corpo da
companheira para os policiais. A multidão, em volta, não perderia um lance,
alguns não voltariam hoje de novo ao emprego, muitos retornariam no fim do
expediente para conferir, o corpo ainda ali, plástico preto, que levantava com
o vento, deixando ver a sandália e o pé bem-feito.
Com
certeza, Abreu, iludido, contabilizaria logo a suposta herança. De seu banco de
praça, o imaginador sorria, imaginando como o safardana, dali a alguns dias,
odiaria Teresa ao descobrir que ela tinha premeditado tudo antes do gesto
extremo.
Por
enquanto, do banco, os olhos do homem seguiriam aquele nada, que, finalmente,
iria em direção ao estacionamento além da esquina, já de mão dada com o outro
nada, que, muito rebolativa em seus saltos altos, ousaria gargalhar, relaxada.
Agradeço ao blogue “Ai que chic” (link) a foto ilustrativa acima da Praça Paris, no Rio de Janeiro.
1 comentário:
Belo conto, com o seu quê de atual.
É triste morrer num sítio tão lindo,
Aquele abraço.
Célio
Enviar um comentário