A
estação do metropolitano no Campo Grande encontrava-se apinhada de gente.
Aquela hora matinal era normal ter um afluxo grande, mas com o atraso motivado “por
problemas na Linha Amarela”, que aparecia no placard, o cais já começava a ter falta de espaço.
Álvaro
olhou para o seu relógio Seiko e
verificou que faltavam 20 minutos para a hora de entrada ao serviço.
-
Merda para isto! – falou com os seus botões. – Logo hoje, car..., em que
precisava de chegar a horas para a “bodega” da reunião com a chefia.
-
Senhores passageiros, o tempo de espera poder ser mais prolongado que o
habitual. Pedimos desculpa pela situação – soou uma voz feminina nos
altifalantes da estação.
-
É sempre a mesma coisa nestes últimos tempos – falou o seu vizinho do lado para
o “ar”.
-
Tem razão! – respondeu-lhe. – Isto agora tornou-se quase ritual. Quando não é
na amarela, é na verde ou na vermelha... ou o “raio que os parta”.
Tornou
a olhar para o relógio e verificou que tinham passado quase 5 minutos.
-
Agora já não vale a pena sair – pensou. – As filas para o autocarro já devem
estar “estilo repartição de finanças”.
Tirou
o jornal debaixo do braço e tentou fixar a sua atenção num artigo qualquer que
lhe pudesse não o fazer pensar no tempo.
-
Esses “filhos da p...” é que deviam andar de metro para saber como é – tornou o
vizinho do lado ao olhar para a página do jornal onde aparecia o
primeiro-ministro e alguns outros membros do governo. – Os gajos andam de “cu tremido”
pago pelo “Zé Povinho”, querem lá saber da “malta”...
-
É – respondeu Álvaro. – Mas alguém lá os pôs...
Tornou
a olhar para o relógio. – Fod...! Já não vou chegar a tempo – falou
interiormente. – Porque é que eu fui beber a “bica”. Perdi o autocarro e mais
tempo perdi...
-
“Foi retomada a circulação na Linha Amarela” – tornou a voz feminina dos
altifalantes.
-
Bom, vou ter que entrar dê lá por onde der! – pensou e foi colocar-se estrategicamente
na beira do cais a pisar já a linha amarela.
Todas
as pessoas começaram a mover-se e a tomar as suas posições. O barulho do metro
no túnel fazia-se anunciar.
De
repente um corpo de uma jovem adolescente tombou à linha. Gritos fizeram-se
ecoar por toda a estação.
-
Façam sinais para o condutor parar – gritavam muitos.
Todos
esbracejavam e tentavam ver o que se estava a passar. Outros viravam costas e
dirigiram-se no sentido da saída. Algumas mulheres entraram em histeria. O
cenário era quase “apocalíptico”.
Álvaro
ouviu o chiar estridente das carruagens, sinal que o condutor tinha acionado os
travões de emergência.
-
Meus Deus! Não!.. – pensou e fechou os
olhos.
Um
“pi” forte soou-lhe aos ouvidos. Abriu os olhos e verificou que se encontrava
na cama. O tal “pi” era o “cabrão” do despertador...
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