(Conto registrado no Escritório de Direitos Autorais
- Rio de Janeiro - Brasil)
Sentada na cama, as tralhas
ensacadas. Lágrimas, não há mais. O rosto inchado, apenas observa em volta.
Tarefa simples: um armário de duas portas, dentro do cubículo. Calor
insuportável no verão; umidade entrando nos ossos no inverno.
Tinha
criado a filha com muito esforço, solteira, ingênua que fora. Nunca se queixou.
A menina enchia-lhe a vida. Pobre, muita faxina tinha alimentado suas bocas,
pago seu quartinho, a roupa pouca, os livros da pequena. Estudo reduzido, mas
muita honradez ensinada pela mãe.
Não tinha podido garantir sua
velhice, contudo. Sobrava dinheiro para isso? A mocinha casara cedo,
felizmente. Marido era um homem honesto, trabalhador. Nada faltava em casa. Mas
sempre renegara a herança da mulher: a mãe.
Naqueles
anos todos, ela, “a velha”, como ele dizia, sem o menor acanhamento, tinha
feito tudo para agradar ao genro: lavava as roupas dele, passava com carinho
para ver se merecia ao menos consideração. Nada. O homem dizia que aquilo nem
correspondia à parte do feijão comido. E o resto? Quarto – quarto? –, luz, água
e tudo o mais? Que sina a dele ter de trabalhar o dobro para sustentar boca
adicional!
A
filha, muito submissa, reclamava no quarto, à noite. As vozes se alteravam. A
senhora se encolhia toda na cama.
No
dia seguinte, a própria mãe abraçava a outra, ambas lacrimosas, e aconselhava
que não fizesse aquilo, imagine, atrapalhar sua felicidade. Os homens eram
assim mesmo... e onde iria achar outro tão bom, cumpridor de seus deveres? A
moça tentava acreditar.
Agora
ele tinha decidido e arranjado tudo. Descoberta uma prima dela, velha também e
doente, no interior, tão longe, despachava a sogra para lá.
Saindo pela boca, já, a saudade
de sua menina. Mas conformava-se, pensando que libertava a filha para ser
feliz. Fosse o que fosse, nunca mais a moça engoliria aqueles desaforos e,
afinal – deu um suspiro fundo –, a prima era uma pessoa boa e pacata.
Um “Mãe, tá na hora”, resgatou-a dos devaneios.
Levantou-se, condenado à morte, convocado por guardas e padre que lhe batem à
porta.
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