Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de
Direitos Autorais - RJ - Brasil)
Com os olhos ainda fechados –
tentativa de não acordar de todo –, quis se espreguiçar longamente... mas, em
vez de sentir os músculos se estirando, nada sentiu. Ao mesmo tempo, havia uma
sensação vaga, alguma coisa que devia lembrar.
Tornou a tentar alongar os
braços e pernas, só para testar, mas ainda agora não conseguia aquela sensação
gostosa de todas as manhãs.
Mesmo contra a vontade, começou
a arriscar a abrir os olhos. Muito devagar, era o truque que tinha desenvolvido
para entrar aos poucos em contato com a realidade. Realidade, porém, era uma
palavra que não parecia calhar com a situação.
Tentando abrir os olhos,
pálpebras pesadas ainda, não viu a luz da janela. Então era isso, vai ver que
não tinha amanhecido, nem madrugada fosse. O cérebro se recusava a engrenar
fora do horário.
Se não via, queria ouvir o que
se passava em volta, pois havia algum som, havia. Um rumor vago, parecia
sussurro. Era um som conhecido, que não conseguia identificar exatamente.
Choro? Era choro? Um lamentoso choro de sofrimento, que estranho! Alguém estava
chorando.
Um sonho, com certeza. Aquela
impossibilidade de se mexer, de abrir os olhos, de ouvir com clareza. Em sonho
era sempre assim. Na verdade, começou a sentir um leve sobressalto. Mais do que
sonho, pesadelo.
Mas havia um cheiro. Contínuo,
envolvente. Entrando pelas narinas. Um perfume, quem sabe. De flor. Meio
nauseante.
O sobressalto começou a se
transformar em pânico. Havia um fato para ser lembrado. Precisava se lembrar do
que tinha de ser lembrado. Era como se houvesse uma urgência naquilo. Talvez
fosse a chave para acordar.
De repente, saindo das
profundezas do inconsciente, a lembrança veio. Avassaladora. Tremendo da cabeça
aos pés, todos os seus sentidos se conectaram. E, retesada cada parte de seu
ser, levitou acima de todas as flores em que estava mergulhado, de todas as
pessoas taciturnas, que o olhavam, lamentosamente, e partiu pela janela,
finalmente, acordado.
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